Carvão vegetal é utilizado por 80% das famílias angolanas em alternativa ao gás

A grande pressão sobre as florestas angolanas resulta da elevada procura das comunidades por carvão vegetal, utilizado por 80% das famílias para cozinhar, disse hoje em Luanda um responsável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A informação foi avançada por Felipe Bottiini, consultor do Ministério do Ambiente de Angola e do PNUD, numa reunião de análise do projeto de “Promoção do Carvão Vegetal Sustentável em Angola Através de uma Abordagem da Cadeia de Valor”.

Segundo Felipe Bottini, 80% das famílias em Angola confecionam os alimentos com recurso ao carvão vegetal, mas existem alternativas a esta fonte de energia, que não são utilizadas por serem mais caras, como, por exemplo, o gás butano.

A eletricidade, por outro lado, “precisa de infraestruturas para chegar a todos os domicílios. Hoje não é possível imaginar as casas fazendo confeção de alimentos com eletricidade, até em países muito desenvolvidos isso é raro, porque fica muito caro”, disse.

O consultor frisou que está a ser finalizado um estudo “bastante extenso”, iniciado, em 2018, pelo Ministério do Ambiente de Angola em parceria com o PNUD e o Fundo Mundial para a Proteção do Ambiente (GEF), para identificar a relação entre as diferentes etapas de preservação do ambiente e de desenvolvimento social e económico.

“Basicamente hoje o consumo de carvão é a principal fonte de energia doméstica para a confeção de alimentos. Por isso, temos de ter muito cuidado, porque qualquer critério de sustentabilidade, como preservação florestal, pode ter impacto nos preços. Por outro lado, se não preservar a floresta, o carvão acaba por falta de disponibilidade”, disse.

Segundo Felipe Bottini, o desafio é encontrar um meio termo para que se consiga preservar a floresta e, ao mesmo tempo, fornecer energia a um preço acessível para as famílias.

Para o consultor, ainda há muito a trabalho por se fazer em Angola “porque a questão florestal é de difícil controlo”.

“São desafios que Angola está a enfrentar neste momento e é claro que existe uma tendência natural de aumentar esses desafios, porque à medida que a população cresce e a demanda por energia cresce, essa pressão é natural”, referiu.

Felipe Bottini disse que há alternativas, apesar de pouco exploradas, sendo um dos objetivos do projeto dar a conhecer as mesmas.

“Estivemos a fazer um circuito entre [as províncias] Huambo e Cuanza Sul, no ano passado, e vimos algumas localidades onde o ‘soba’ [líder tradicional] proibiu o corte para fazer carvão e investiu nos produtos florestais não madeira (mel e frutas), e a renda média deles é superior a quem faz carvão”, apontou.

O consumo próprio de carvão pelas comunidades é irrelevante, frisou Felipe Bottini, porque as comunidades são muito pequenas.

“O problema é que esse carvão não usado para subsistência, também é vendido, porque é fonte de renda alternativa e com a caraterística de ser imediata. Num prazo de 30, 40 dias a pessoa extrai a madeira, faz o carvão e vende, não tem um grande valor de mercado, mas é uma renda rápida”, salientou.

Relativamente ao fenómeno das queimadas, o consultor disse que “são sempre um problema”, porque ocorrem não apenas por influência humana, mas naturalmente.

“É um problema a tratar. É muito difícil monitorizar as queimas e é muito importante que haja capacidade local” para mostrar à comunidade que “aquela floresta viva, vale mais do que queimada”, gerando interesse em preservar, frisou.

Com um orçamento de 4,6 milhões de dólares (4,18 milhões de euros), financiado pelo Fundo Mundial para a Proteção do Ambiente (GEF) e outros 875 mil dólares (796 mil euros) disponibilizados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o projeto iniciado em 2016, com a duração de seis anos, abrange 35.000 pessoas, em 42 comunidades das províncias do Huambo, Cuanza Sul e Luanda.

Lusa/Fim
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