Inflação alta inviabiliza corte das taxas de juro

José de Lima Massano

Com uma inflação homóloga situada em 18,74 no mês de Fevereiro e uma taxa básica de juro de 15,5 por cento, o BNA não encara, nesta altura, operar sobre os juros para viabilizar o crédito, de acordo com declarações do governador do banco central no fim da reunião do Comité de Política Monetária (CPM) realizada, na sexta-feira, em Luanda.

José de Lima Massano notou, em conferência de imprensa, que os níveis de inflação ainda são elevados, sendo necessário “continuar a fazer o exercício no sentido da estabilização de preços na nossa economia”, revelando haver, no CPM, “correntes” que entendem que se deve subir a taxa básica de juro, que é negativa e está situada abaixo da inflação.

A manutenção da taxa básica de juro, decidida na sexta-feira, deve ser vista como um sinal de que, apesar da inflação elevada, há espaço para apoiar a economia, disse o governador que apontou a opção pelo recurso às reservas obrigatórias dos bancos comerciais junto do BNA para a concessão de crédito ao sector produtivo.

Segundo José de Lima Massano, os financiamentos dessa origem beneficiam os 54 produtos prioritários no âmbito do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi), sendo concedidos a uma taxa de juro de 7,5 por cento, que considerou “bastante competitiva” e dever ser entendida como “um estímulo ao fomento da actividade económica no país”.

Ao apresentar os dados que determinaram a decisão de manter a taxa básica de juro, o governador indicou que as Reservas Internacionais Brutas situaram-se em 16,39 mil milhões de dólares, em Fevereiro 2020, contra 16,84 mil milhões em Janeiro (menos 2,61 por cento), equivalente a 8,34 meses de importações de bens e serviços.

As Reservas Internacionais Líquidas fixaram-se em 10,89 mil milhões de dólares, o que representou uma diminuição de 3,9 por cento face ao mês de Janeiro (11,34 mil milhões) e foi destacado por José de Lima Massano como estando “acima das recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das convenções da Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral (SADC)”.

O responsável admitiu que o actual cenário dos preços baixos do petróleo, pode resultar em maior pressão sobre as Reservas Internacionais Líquidas, o que leva o BNA a estabelecer como metas a protecção desses fundos e a salvaguarda da solvabilidade externa da economia.

O governador também admitiu a eventualidade de um novo exercício de avaliação da qualidade dos activos dos bancos comerciais este ano, apesar de o realizado no final do ano passado ter revelado que a larga maioria dos operadores do sistema tem robustez suficiente para permanecer no mercado.

Um novo exercício de avaliação decorre de receios, manifestados pelo governador, de que, ao prolongar-se, o mau momento que a economia atravessa poder resultar numa vaga de crédito em situação irregular. Nessa altura, indicou, é provável que se coloque a necessidade de “termos de revisitar os níveis de capitalização dos bancos comerciais”.

José de Lima Massano revelou discussões que determinaram que os custos com a emissão e a circulação do kwanza na economia são equivalentes aos da introdução de uma nova família, operação cujo calendário se mantém. Um adiamento dessa decisão, não representaria uma “grande economia”, disse o governador do BNA.

Fonte: Jornal de Angola
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