O choque frontal entre João Lourenço e Rui Falcão visto à lupa

Ao apelo à transparência na gestão de máquinas para a reparação de estradas, feito pelo Presidente angolano, João Lourenço, em sede do Conselho da República, seguiu-se a devolução, segunda-feira, 28, da brigada mecanizada de construção apreendida em Benguela pela Procuradoria-Geral da República (PGR), debaixo da crítica de observadores que procuravam explicações para uma medida rejeitada dias antes pela Polícia.

Analistas realçam que a polémica em torno do equipamento, referenciada pelo Chefe de Estado após apreensões, inclusive no Bié, e interrogatórios a membros do Governo Provincial de Benguela, abriu um cenário de “choque” entre João Lourenço e o governador Rui Falcão.

Pelo meio, por ocasião da visita a Benguela do ministro da Administração do Território, Marcy Lopes, estão as críticas de Falcão ao modelo centralizado de governação, elogiadas, como vemos nesta edição, por uma oposição que parece ter conseguido fôlego na luta pelas autarquias.

Agora, a ninguém passa despercebida a devolução ao Ministério da Agricultura e Pescas, tido como proprietário das 11 máquinas, entre bulldozers, pás carregadoras, cilindros e camiões-cisternas, com a PGR na primeira declaração pública a justificar a medida com a necessidade de “evitar a deterioração de meios pesados”.

A devolução deveria ter ocorrido dois dias antes, quando o Governo de Benguela endereçou convites à comunicação social para a cobertura do acto formal, mas a falta de um ofício do fiscal da legalidade provocou impedimentos na Unidade de Protecção de Individualidades Protocolares (UPIP), onde se encontrava há dois meses a brigada mecanizada de construção civil.

Os mesmos observadores lembram que o Presidente da República, ao insistir na reparação de estradas secundárias e terciárias como incentivo ao escoamento da produção, estava a par do expediente criminal que agita o Governo de Benguela.

Após ter recebido da PGR o ofício exigido pela UPIP e as chaves dos meios, o director do Gabinete da Agricultura e Pescas, Pedro Gomes, um dos dirigentes arrolados pela PGR, fez questão de proceder à entrega à construtora CCJ, suspeita no processo-crime em curso, num gesto que deu lugar a mais interrogações.

Texto: Novo Jornal
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