Romeu Miranda abre projecto “Canções da Sagrada Esperança”

Durante os dois dias, o certame reserva um palco livre para jovens amadores, recitais, uma exposição e venda de livros do Primeiro Presidente de Angola, literatura crítica disponível sobre a sua obra, e livros generalistas,a cargo de dez editoras e livreiros seleccionados. Faz parte ainda da programação uma dissertação sobre a vida e obra do poeta Agostinho Neto, na sua dimensão política e cultural, orientada pelo Professor Universitário Hélder Simbad.
Destaque para a presença do cantor e compositor Dom Caetano, que vai encerrar o momento musical do projecto, com a interpretação da versão em quimbundo do tema “Adeus à hora da largada”.

O projecto, uma parceria entre a Arte Viva, edições e eventos culturais, e a Fundação Dr. António Agostinho Neto, pretende promover e divulgar a obra literária do poeta Agostinho Neto, junto da nova geração de leitores, motivar o exercício da crítica literária e estimular a investigação no domínio da literatura de autores angolanos, nas instituições universitárias.

Filho de João Miranda e de Juliana António, Viegas António Miranda, Romeu Miranda, nasceu no dia 7 de Outubro de 1987, em Luanda, Município da Maianga.
Contacto

O contacto de Romeu Miranda com a poesia de Agostinho Neto começou em 2013, ocasião em que o cantor foi convidado a participar na peça teatral “Neto Presente”, encenada e dirigida pelo dramaturgo, Walter Cristóvão. Na peça, Romeu Miranda compôs a trilha sonora, constituída por nove canções sobre a vida e obra de Agostinho Neto, sessão teatral exibida no palco do “Royal Plaza Hotel”, no Talatona.

Em 2017, Romeu Miranda, novamente convidado por Walter Cristóvão, participou numa gala de premiação teatral, baseada na vida e obra do Primeiro Presidente de Angola, que homenageou a escritora Maria Eugénia Neto, realizada na Liga Nacional Africana, ocasião em que o cantor interpretou “Alma negra”, canção baseada no texto homónimo da autoria do poeta Agostinho Neto.

Com o sucesso alcançado com a interpretação da canção “Alma negra”, a Fundação Dr. António Agostinho Neto convidou Romeu Miranda para gravar o CD “Histórias de amor”, com músicas inspiradas na poesia de Agostinho Neto e no livro “Cartas de Maria Eugénia a Agostinho Neto”, 2016, com destaque para os temas “Sagrada Esperança, “Para o meu querido Agostinho Neto”, “Dos mares de Lisboa” e “Alma negra”, os dois últimos com letra de Walter Cristóvão.

Percurso
Cantor, compositor e actor, Romeu Miranda cresceu no distrito do Sambizanga, Bairro São Pedro da Barra, local onde descobriu a sua propensão para a música e teatro, quando contava apenas treze anos de idade. Nesta altura, apaixonou-se pelo género hiphop, actuando em vários eventos recreativos organizados pela Escola 428, onde estudava, e na abertura de espectáculos teatrais.

Em 2004,Romeu Miranda juntou-se a quatro amigos, Euclides de Almeida, Pedro, Lineu Lussasse e Sakatwuala, e formaram um pequeno grupo musical, denominado “Os fantásticos”. Em 2009, “Os fantásticos”, por razões de formação académica dos outros integrantes, transformaram-se em Duo, constituído por Romeu Miranda e Euclides de Almeida.

Em 2010, “Os fantásticos” participaram no concurso “Estrelas ao palco”, onde tiveram uma prestação bastante aplaudida, imitando a dupla sertaneja, Leandro e Leonardo, do Brasil, com a interpretação da canção “Pensa em mim”. Em 2011, o Duo participou no Festival da LAC, Luanda Antena Comercial, e venceu o “Prémio Melhor Voz” do festival, com a interpretação da canção, “Kiukitukila”, de António Pascoal Fortunato, “Tonito”.

Na sequência, “Os fantásticos” foram-se profissionalizando, fazendo concertos em Luanda, com canções da autoria do grupo e, em 2012, participaram no concerto do cantor e compositor brasileiro Ricardo Villas, na condição de convidados especiais, interpretando a canção “Coco verde”, acompanhados pela Banda Maravilha, no palco da Associação Cultural Chá de Caxinde, em Luanda. Ainda em 2013, o duo fez “Backvocals” num concerto do cantor e compositor Ndaka Yo Wiñi, na Baía de Luanda.

Extinção
Com a saída de Euclides de Almeida, em 2015, por razões relacionadas com “circunstâncias adversas à vida”, “Os fantásticos” extinguiram-se, e Romeu Miranda decidiu enveredar por uma carreira a solo, tendo-se associado, em 2016, à produtora “Wipeld produções”, onde trabalhou com cantores consagrados, com destaque para Lutchana Mabulo, Walter Ananás e Nicol Ananás.

Disco
O CD “Histórias de amor”, de Romeu Miranda, foi gravado de Abril a Dezembro de 2017, nos Estúdios “Letras e Sons”, em Luanda, com a Banda do cantor e compositor Gabriel Tchiema. Romeu Miranda falou do seu disco, nos seguintes termos: “Penso ter feito um bom CD e sinto-me satisfeito com o trabalho, na sua generalidade, sobretudo ao nível dos arranjos. Aprendi muito com este CD, porque estava muito ligado à música sertaneja, e a experiência e solidez na execução instrumental dos músicos que me acompanharam, fez-me evoluir bastante. A liberdade estilística fez deste disco um produto cuja qualidade está a ser reconhecida pela crítica mais exigente”. “Histórias de amor” inclui as canções “Ndukussole”, música e letra de Romeu Miranda, “Sagrada Esperança”, música de Romeu Miranda e letra de Agostinho Neto, “Para o meu querido Agostinho Neto”, música de Romeu Miranda e letra de Maria Eugénia Neto, “Camionista”, música e letra de Romeu Miranda, “Seca do coração”, música e letra de Romeu Miranda, “Dos marés de Lisboa”, música de Romeu Miranda e letra de Walter Cristóvão, “História de amor”, música e letra de Romeu Miranda, “Morena de Benguela”, música e letra de Romeu Miranda, “Alma negra”, música de Romeu Miranda e letra de Walter Cristóvão, e “Navegando de vento em popa”, música e letra de Romeu Miranda.

Programa
A cerimónia de abertura está prevista para o próximo dia 24, quinta-feira, às 10h:00, com um breve discurso de abertura, proferido pelo Director da Cultura, Turismo, Ambiente e Desportos do Governo Provincial de Luanda, Manuel Gonçalves. Segue-se uma visita guiada com comentários dos expositores sobre os livros, sessão livre de autógrafos, proposta das editoras, concerto de abertura, às 12h:00, com o cantor e compositor Romeu Miranda, e abre o palco livre com recitais e trova. Os concertos de trova do dia 24 começam às 18h:00, com Júlio Gil , Costa Maweze, Obadias Correia, Fernando Jessy e Lídio Gomes. O palco livre permanece no dia 25 e abre às 10h:00. A dissertação sobre a vida e obra de Agostinho Neto, por Hélder Simbad, começa às 14h:30e o palco livre retoma às 15h:00. Os concertos de trova do último dia, 25, começam igualmente às 18h00, e serão animados por Kamané Silva, Lídio Gomes, Helena Timóteo , Cidy Daniel e Dom Caetano, que encerra o evento às 20h00.


“Cartas de Maria Eugénia a Agostinho Neto” inspiram composição musical

O livro “Cartas de Maria Eugénia a Agostinho Neto”, 2016, publicado pela Fundação Dr. António Agostinho Neto, organizado pela escritora Maria Eugénia Neto e Irene Neto, constitui um singular testemunho da ex- Primeira Primeira-Dama de Angola, e serviu de base à composição da canção, “Para o meu querido Agostinho Neto”, de Romeu Miranda. Pires Laranjeira, docente da Universidade de Coimbra, escreveu o seguinte na introdução do livro: “As cartas de Maria Eugénia, Jenny, que vivia em Lisboa para Agostinho Neto, preso na cadeia da PIDE, no Porto, abrangendo o período de 13 de Julho de 1955 a 10 de Junho de 1957, desde então seis décadas são passadas, incluem-se num âmbito que podemos apelidar de “cartas de namoro, camaradagem e julgamento”. De namoro, porque eles estavam no estado de encantamento e casariam logo depois, no ano de 1958, de camaradagem, porque se achavam empenhados na libertação de Portugal da ditadura de Salazar e na luta de libertação nacional de Angola, sobretudo por parte de Agostinho Neto, militante e dirigente do MUD Juvenil, conotado com o PCP, Partido Comunista Português, de que nunca foi militante, e activista do movimento popular anti-colonial, e de julgamento, porque o processo do Porto está muito presente nelas e também porque ambos vão julgando os poemas do outro e fazendo juízos sobre as suas vidas”. Curiosamente, escreve o académico, o poeta Agostinho Neto tratava a Maria Eugénia por Jenny: “Embora Maria Eugénia fosse tratada por Geninha e Maria Eugénia pela sua família, não deixa de ser curioso o facto de ser tratada por Jenny pelo namorado e pela sua roda de amigos e pela frente de camaradas da política e da cultura. Recorde-se que esse era o nome da esposa de Karl Marx – Jenny VonWestphalen- uma aristocrata prussiana que casou com o revolucionário por amor e teve de viver uma vida tumultuosa e de uma penúria a que não estava habituada”.

Jomo Fortunato in: Jornal de Angola
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