Covid-19: Mercado do 30 em Viana está com frágeis medidas de prevenção sanitária

Um número expressivo de pessoas, entre vendedores e clientes, no Mercado do KM-28, também conhecido como Mercado do 30, em Viana, ainda ignorava, até à tarde de sexta-feira, as medidas de prevenção à infecção pelo novo coronavírus.

Numa ronda, o Jornal de Angola observou um número reduzido de pessoas com máscaras de protecção e luvas, uma postura que, de acordo com pessoas avisadas, pode dever-se à falta de preocupação ou à ignorância das medidas de prevenção ao Covid-19, doença contagiosa que já matou mais de três mil pessoas no mundo, desde o seu surgimento na China, em Dezembro último.

Os mais despreocupados eram vendedores e carregadores de mercadorias, os conhecidos roboteiros, alguns dos quais admitiram total desconhecimento das medidas de prevenção, como lavar as mãos com água e sabão, na falta de álcool gel.

Do rol de interpelados, os que mais se mostraram informados e precavidos eram clientes, de ambos os sexos, alguns dos quais afirmaram que a prevenção é a melhor arma contra o Covid-19.

“Estou a evitar apertos de mãos, beijos e abraços desde que o Ministério da Saúde começou a difundir as medidas de prevenção contra o Covid”, explicou Júlia da Conceição, que, quando falava ao Jornal de Angola, estava com uma máscara e as mãos cobertas com luvas.

Como se tivesse adivinhado a curiosidade do repórter, Júlia da Conceição abriu uma pasta que carregava e no interior estavam vários frascos de álcool gel e luvas, adquiridos numa farmácia antes de ter ido para o Mercado do 30 com o objectivo de abastecer a despensa de casa.

“Todo o cuidado é pouco e não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias”, acentuou Júlia da Conceição, que foi interrompida pela vendedora Madalena Cassopo, que manifestou total ignorância quando disse acreditar que o Covid-19 “é doença de brancos”.

Madalena, vendedora de tomate, frisou que a primeira vez que ouviu falar em Covid-19 foi numa conversa com colegas, depois do termo da jornada laboral, adiantando que, apesar de saber que, em vários países, a doença está a matar, não estava ainda preocupada, porque, na altura, o país ainda não tinha registado nenhum caso positivo.

Paula Unga, também vendedora, opinou que a pandemia de Covid-19 não devia preocupar os angolanos porque, de acordo com a própria, “o vírus não sobrevive a uma temperatura acima de 25 graus centígrados”, uma opinião que destapa também o seu desconhecimento sobre a doença. O roboteiro Paulo Cabenga, que usava uma máscara empoeirada, explicou que já estava com o acessório há dois dias, por não ter dinheiro suficiente para se dar ao luxo de trocar frequentemente, como recomendam os especialistas em saúde pública. “Mais vale prevenir do que remediar”, declarou Paulo, para quem, em Angola, “todo o cuidado é pouco, porque até em países mais desenvolvidos a doença está a matar muita gente”.

Quem defendeu que a informação sobre as medidas de prevenção “deve circular com maior rapidez no Mercado do 30” foi Paula Damba, uma cliente assídua do espaço, onde compra, sobretudo, produtos agrícolas. A sugestão de Paula deve-se ao facto de o Mercado do 30 ser um espaço de venda de muitos alimentos e de grande concentração de pessoas, oriundas de vários bairros da província de Luanda e não só.

Paula Damba sugeriu aos frequentadores do Mercado do 30 para a lavagem, e de forma correcta, de qualquer produto adquirido no espaço, por ficar exposto ao sol e sujeito à contaminação.

Na conversa com o Jornal de Angola, Paula confirmou que está a par de tudo sobre o Covid-19, por acompanhar diariamente os espaços informativos televisivos e radiofónicos.

O vendedor Moisés Songo criticou as pessoas que estavam desprotegidas, uma negligência que, na sua opinião, se deve “única e simplesmente à falta de informação e sensibilização”. “O que se vê aqui é muito grave e pode causar-nos um grande problema de saúde pública, caso o mercado continue aberto”, alertou.

Uma fonte ligada à Administração do Mercado do 30 assegurou ao Jornal de Angola que, no espaço, tem sido realizada campanha de sensibilização em torno das medidas de prevenção contra o novo coronavírus.

A campanha, de acordo com a fonte, tem como público-alvo os vendedores e é realizada em simultâneo nas sete secções de vendas de produtos do mercado, por 80 pessoas, a maioria das quais fiscais.

A extensa equipa de sensibilizadores não recebeu nenhuma formação de activismo sanitário, sendo esta a razão de estar a transmitir o essencial em matéria de higienização, que é a lavagem das mãos com água e sabão, álcool gel ou vinagre.

Texto: Jornal de Angola
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