Morreu o porta-voz da resistência da cidade do Kuito na década de 90

Abel Abrãao, à esquerda, aquando da atribuição do seu nome à mediateca do Kuito

Abel Abraão, jornalista reformado da Rádio Nacional de Angola (RNA), morreu hoje, terça-feira, no Hospital Provincial do Bié, segundo a Angop, sem avançar as causas.

Abraão notabilizou-se pela cobertura da guerra pós-eleitoral de 1992, aquando do cerco e tentativa de tomada da cidade do Kuito, capital da província do Bié, pelo antigo exército da Unita.

O jornalista da RNA foi o porta-voz da resistência da juventude biena, que impediu o controle da sua capital pelas tropas de Jonas Savimbi. João de Matos, primeiro chefe do Estado Maior das Forças Armadas Angolanas, classificou a acção da população biena em defesa da sua cidade como uma das mais gloriosas páginas da história recente de Angola.

Em Maio deste ano, o jornalista foi homenageado na cidade do kuito, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido ao longo de mais de 30 anos de carreira, durante uma cerimónia pública organizada pelo projecto “Circuito Cultural”.

Na ocasião, Abel Abraão lembrou a perda de alguns colegas, amigos e familiares, mas não obstante isso, o dever de informar o país e o mundo constituía sua obrigação, chegou a ser atingido por um projéctil que lhe causou ferimentos, em 1994.
O jornalista falou ainda da profissão e da experiência que teve ao cobrir uma guerra. Nesse particular, disse ser “bastante complicado”, recordou o risco de vida que correu no Bié durante a guerra, sobretudo, pelas dificuldades de comunicação na altura.
“Durante a guerra, escapei muitas vezes da morte. Mesmo sem comunicação, tinha sempre de me deslocar ao Palácio do Governo para expedir o trabalho e depois ao Comando das Forças Armadas”, disse.
Apesar das dificuldades e dos riscos por que passou, Abel Abraão diz ter “colocado o profissionalismo à frente de tudo”. “A minha motivação sempre foi informar o país, porque tinha essa obrigação, mas como recompensa recebi muito pouco”, lamenta.
No local da cerimónia, foi feita uma exposição de alguns equipamentos utilizados durante a cobertura jornalista, nomeadamente, telefone, máquina de dactilografar e a gravadora de fabrico alemão Uer.

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