ONU — Capital humano é a maior força de Angola

Pier Paolo Balladelli, que cessa o seu mandato em Angola a 05 de agosto, vai regressar à sua área de especialidade, desta feita na Venezuela, integrando a Organização Pan-Americana da Saúde, um organismo internacional que faz parte da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O italiano de 62 anos, médico especialista em Saúde Pública, que passou nove anos no país lusófono repartidos em dois períodos (de 2000 a 2004 como representante da OMS e a partir de 2015 no atual cargo) termina a missão com “sentimentos positivos” em relação ao país e ao seu povo e acredita que Angola pode ser “amanhã o motor do continente africano”.

Em entrevista à Lusa, descreveu como mudaram as prioridades, reconhecendo que ainda há muito para fazer para que o país beneficie de todo o seu potencial.

Se durante a sua primeira missão “a grande preocupação era ainda o fim da guerra e a cooperação tinha uma forte componente humanitária”, a partir de 2002 inicia-se a reconstrução do país muito centrada no restabelecimento das vias de comunicação, uma vertente essencialmente “física”.

Neste momento, “o grande desafio é fazer uma reconstrução de tipo cultural e económico”, assinala Balladelli, declarando-se “satisfeito” com o que foi atingido.

Tendo trabalhado com dois executivos — o que foi liderado por José Eduardo dos Santos, que se manteve no poder durante quase 40 anos e o atual governo de João Lourenço, que assumiu a presidência em setembro de 2017 — o responsável da ONU destaca a “grande mudança de foco e de cultura” na atual administração.

“O foco anterior estava mais virado para as infraestruturas, o atual governo está mais virado para o capital humano”, diz Balladelli, salientando ser esta “a força mais importante de um país”.

Também os programas das Nações Unidas têm acompanhado a mudança de prioridades

“Os atuais programas estão muito centrados nas comunidades e nas famílias, uma nova organização de recursos virada para as pessoas. Estamos a trabalhar para elevar a capacidade profissional e qualificação das camadas mais jovens”, exemplificou o mesmo responsável.

Para Balladelli, é importante compreender que as Nações Unidas “têm mais potencialidades do que se estão a usar atualmente no país”, acrescentando que não estão em causa questões financeiras.

E deixa algumas recomendações: “é preciso capacidade técnica para melhorar a gestão do Estado, criar mais transparência, criar mais proximidade entre a população e os que tomam decisões, usar no país a experiência de outros para ver como resolveram certas dificuldades”, num exercício de aprendizagem de boas práticas, em que considera que as Nações Unidas  poderiam também ir mais longe, embora esse desígnio esteja “mais clarificado” no atual quadro de cooperação.

“O papel das Nações Unidas não é financiador, para isso temos os bancos, o Banco Mundial, etc. As Nações Unidas são ‘know how’, são conhecimento para poder fazer análises e definir estratégias corretas a implementar”, considera Balladelli, descrevendo a implementação como o principal desafio.

“Temos demorado muito tempo a preparar políticas, definir estratégias, melhorar normas e legislação mas o ponto fundamental é a implementação, só assim poderá haver mudanças na vida e bem estar da população”, continuou , afirmando que eventuais erros devem ser corrigidos durante a fase de implementação, pois é preciso “fazer, e não aguardar”.

Quanto à sua próxima missão na Venezuela, acredita que “vai ser uma experiência muito interessante” para a qual trará o contributo de um quadro sénior com uma experiência internacional de quase 37 anos, em quatro continentes, que começou no Equador.

Depois da saída de Angola, o perito vai ainda passar por Itália, onde terá de cumprir quarentena e aguardar pelo primeiro voo humanitário que o levará até Caracas, esperando chegar à capital venezuelana “por volta de 15 de agosto”.

Texto: Agência Lusa
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