Bienal de Luanda não celebrou a visão inclusiva que viabilizou a paz

Jean Sulimane, 45 anos, senegalês, é engenheiro e trabalha em Angola numa petrolífera internacional. Aproveitou a sua folga para acompanhar a primeira edição da Bienal de Luanda. E saiu “decepcionado do evento”, confessa.

Sulimane diz que a Bienal de Luanda esteve longe das suas expectativas. Argumenta que estava à espera de ouvir debates informativos sobre os principais alicerces da paz em Angola. Mustafa, comerciante maliano residente em Luanda, explica que a forma como Angola alcançou a paz é admirada em toda África.

Os africanos querem saber o que de singular há na cultura angolana e que ajudou a cimentar a paz de forma irrepreensível, depois de uma guerra longa e violenta, elucida Mustafa. Esperava, por isso, encontrar informações a respeito, “algo que não aconteceu.”

O sociólogo Carlos Bento, 33 anos, professor do ensino médio, diz que Angola perdeu uma oportunidade para celebrar o patriotismo e a visão inclusiva das lideranças políticas e militares do Governo e da Unita que viabilizaram a rápida concretização da paz em 2002.

A Unesco e a União Africana pretendiam, simplesmente, que Angola pudesse partilhar esta “experiência admirável com o continente africano e o mundo”, explica o jovem sociólogo. “Infelizmente por incompetência não conseguimos materializar”, lamenta.  

Uma bienal sem livros e discos foi das situações que mais estranhei, afirmou o angolano Paulo Mendes de Carvalho, professor de inglês do Instituo Médio Industrial de Luanda. Drumond Jaime, jornalista, diz o mesmo na sua conta no Facebook. Criticou, também, a localização da iniciativa, dizendo que outras actividades poderiam igualmente ser realizadas em diferentes zonas de Luanda como o Benfica, Viana, Zango e outros locais do centro urbano. Ou seja, o evento deveria movimentar a cidade e a periferia, mediante o estabelecimento de parcerias com entidades que organizam actividades culturais em Luanda.

Um conhecido aficionado do Carnaval de Luanda criticou a forma como os carnavalescos foram tratados. Diz que tal é fruto de uma visão preconceituosa de instituições e produtores sobre os operadores do carnaval de Luanda , “vistos como artistas menores”

 Todavia, Paulo Mendes de Carvalho lamenta a ausência de produtores culturais com provas dadas, como o Fernando Alvim, o autor da Trienal de Luanda, Jomo Fortunato, organizador da Feira do Livro e do Disco ou um Arlindo Isabel, editor de referência do mercado angolano.

Analtino Santos, jornalista, numa peça publicada no Jornal de Angola, diz que os espetáculos foram marcados por péssimas condições sonoras, falta de comunicação e informação em relação aos palcos. Aliás, problemas organizacionais foram levantados por vários músicos como o Kizua Gourgel, Afrikkanita, Totó.

Thó Simões, artista plástico, diz ter apresentado projectos aos produtores da Bienal de Luanda que foram simplesmente colocados de lado, sem uma discussão aprofundada, alegadamente por questões orçamentais. Afirma que a organização atropelou procedimentos básicos, isto é, não apresentou uma única solicitação de candidaturas, não previu a participação de artistas que são embaixadores da arte contemporânea angolana no mundo.

Redacção Mukanda
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