Criadores do Sul querem melhorar o gado

A CCGSA estima em cerca de três milhões, o número do efectivo bovino existente em toda a região, sendo que 300 mil são detidos por fazendeiros. Estes são dados avançados, recentemente, ao Jornal de Angola, na Fazenda Tchimbolelo, situada na Tunda dos Gambos, sul da província da Huíla, pelo presidente da CCGSA, Salvador Rodrigues.

Segundo Salvador Rodrigues, os fazendeiros estão “muito preocupados” com a melhoria da qualidade das manadas, pelo que recorrem a técnicas mais apuradas de manejo dos animais e desmatação de mais espaços de terreno, como garantia para a disponibilização de novos pastos.
Salvador Rodrigues indicou que essa estratégia terá reflexos directos na qualidade da carne a entregar ao mercado nacional e  que a agremiação de fazendeiros foi reactivada há cerca de dezasseis anos, depois de alguma inactividade, com a saída de um significativo número de membros, logo a seguir à Independência.

O líder da CCGSA enumerou os “passos seguros”, que vêm sendo desenvolvidos desde a refundação da cooperativa, para a recuperação do seu papel central na economia nacional.
“Esta cooperativa tem trabalhado estruturalmente nas áreas de melhoramento genético do gado das suas fazendas, reestruturação de uma estratégia para o aumento das pastagens, abastecimento de água nas várias propriedades e num programa de um bom controlo sanitário”, sublinhou Salvador Rodrigues.

Destacando o activismo de Fernando Borges – o mais conhecido fazendeiro do Sul de Angola – no relançamento da CCGSA e “considerado, um ídolo para os pecuaristas”, Salvador Rodrigues adiantou que a estratégia seguida pela cooperativa está em linha com os desafios impostos pela modernidade.

Algo que sugere um reforço considerável em meios técnicos e financeiros, depois de ter passado por “tempos muito difíceis”, como reconheceu.
“Com a abertura do mercado a novos actores económicos, a cooperativa tem acompanhado este cenário com bastante atenção, procurando reforçar-se em meios técnicos e financeiros, bem como no melhoramento das manadas nas suas fazendas”, adiantou.

Para a materialização desses desafios, além do alargamento das áreas de pastagens à volta das fazendas e abastecimento de água, foi criado um programa específico de desenvolvimento das fazendas do Sul.

Investimentos elevados
Um dos aspectos fundamentais deste programa é o aumento da capacidade de abate de animais, algo que passaria pela montagem de um matadouro industrial. Mas o líder da CCGSA alerta para as dificuldades de investimentos necessários, num sector em que ainda há pouca abertura da banca.
“Ora, para fazer isso, são precisos elevados investimentos no domínio da mecanização. Aliás, só, aqui, à volta da Fazenda Tchimbolelo, por exemplo, surge um manancial de mato, que para ser transformado em pasto precisa de máquinas, sem as quais pode demorar mais de vinte anos. Esse é apenas um exemplo, sobre os investimentos necessários para esse tipo de actividade”, alertou.

Para viabilizar esse propósito, um dos “grandes projectos”que a CCGSA está a negociar com a banca é precisamente um financiamento que viabilize a criação de uma brigada de mecanização, para a desmatação de mais espaços das fazendas, incluindo para o apoio às comunidades vizinhas e criação de  infra-estruturas,  essenciais, como pequenas barragens e diques.

“Além da criação de grandes infra-estruturas, essas brigadas de mecanização podem ajudar pequenas fazendas na retenção de água e ajudar as comunidades a aumentar o efectivo de gado”, sublinhou Salvador Rodrigues.

Insistiu que para o aumento das manadas, serão necessários mais pastos, o que passa pela desmatação de terrenos para a produção de forragens (complemento alimentar para o gado), trabalho que hoje é feito manualmente, com resultados a surgirem ao fim de vinte anos.

Na CCGSA, há a convicção de que, uma vez conseguido o alargamento rápido das manadas, mais facilmente aumenta a capacidade de processamento da carne, já com um matadouro de grandes dimensões, capaz de, além do abate, congelar  com a qualidade desejada.
Essa é uma pretensão para médio prazo, segundo responsáveis da CCGSA.


Desmatação sustentável
O médico veterinário Luís Gata é o director-geral da Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola. Ao Jornal de Angola explicou, ao detalhe, a importância do recurso à mecanização, como premissa para o aumento do efectivo granadeiro e, em resultado, maior oferta de carne a um mercado, ainda muito dependente das importações.

Explicou que uma fazenda que não tenha feito o trabalho de desmatação de forma científica, dificilmente obtém resultados desejados em pouco tempo. “Não pode ser um desmatar que prejudique a natureza. Uma fazenda que não tenha feito este trabalho, em um hectare pode ter uma cabeça de gado, mas se o fizer em três hectares pode ter duas ou mais”, sublinhou, para destacar a importância da aposta na aquisição de maquinaria adequada para o aumento dos pastos.

Luís Gata explicou, também, que as fazendas associadas já possuem bastante genética, com que se espera melhorar progressivamente a qualidade do gado da região Sul, com reflexos no seu valor comercial, pois rapidamente chegam acima dos 400 quilogramas.

Como Salvador Rodrigues, Luís Gata reiterou que, além do trabalho nas fazendas, as máquinas vão, igualmente, servir as comunidades adjacentes, numa perfeita integração com os aglomerados populacionais, de que a Fazenda Tchimbolelo é um exemplo, ao fornecer regularmente entre três a quatro mil litros de água, em tempos de grande escassez.

“Vamos ajudar os aglomerados populacionais que necessitem dos nossos serviços e nós, com certeza, iremos contribuir para melhorar a alimentação dos seus animais”, adiantou o médico veterinário.

Acrescentou que estão cadastrados na CCGSA noventa fazendas estruturadas e associadas, das quais apenas trinta estão em funcionamento pleno, mas a necessitarem de desmatação para aumentarem o seu efectivo animal.

Luís Gata clarificou que as outras sessenta unidades começaram a trabalhar, mas depois “tiveram problemas” – que não especificou – e estão ainda muito longe da sua capacidade instalada.
Disse acreditar, contudo, que as poderão, rapidamente, entrar em produção com os projectos desenhados pela Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola.

A entrada de novos criadores na agremiação tinha sido colocada, antes, ao presidente da cooperativa. “Estamos a insistir nas campanhas de apoio técnico aos associados e criadores tradicionais circunvizinhos sobre a eficiência produtiva (profilaxia, genética e maneio) ”, respondeu.
Salvador Rodrigues referiu, também, como estratégia a atracção de novos membros,  divulgação das vantagens da adesão, participação nas feiras de leilões, palestras e estímulo da cooperativa para melhor colocação dos produtos no mercado.

Assegurou que entre a cooperativa e os criadores tradicionais há uma “relação crescente”, traduzida em trocas comerciais e incentivo a adopção do maneio do gado a novas técnicas de profilaxia e sanidade das manadas.

Sobre o financiamento de projectos ligados à pecuária, o director da Cooperativa de Criadores de Gado do Sul de Angola, insistiu no alargamento dos prazos de reembolso mais alargados e taxas de juro compatíveis com a complexidade do sector.

“Nós temos lutado e defendido que os empréstimos a pecuária não podem ser iguais aos restantes e neste momento, nenhum pacote de financiamento que está disponível se adapta às nossas fazendas, pois estas só obtêm produção ao fim de quatro anos”, disse Luís Gata.

O médico argumentou com o “ciclo biológico do gado”, até ter crias e, depois de três a quatro anos para acabamento (fase adulta). “Por aí facilmente se vê que um empréstimo tem de ter um período de carência diferente dos que estão neste momento no mercado”, enfatizou.

A CCGSA espera que a intervenção do GTE (Grupo Técnico Empresarial), ao qual está afiliada, e que tem acesso directo ao Executivo, possa aliviar as dificuldades de obtenção de financiamento com juros mais atractivos para o sector pecuário. “Através desta plataforma, temos estado a pôr estes problemas e convencidos de que vai ser criada uma situação que se adapte às necessidades da pecuária nacional”, concluiu Luís Gata.

Fonte: Jornal de Angola

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